In jornal Folha do Centro de Nelas

22-12-2009 22:28

 

 

        Folha do Centro - O que motivou a sua demissão de Técnico dos Juniores do Sport Lisboa e Nelas?

        José Lima - A minha demissão de Técnico da equipa Júnior A do SLN, deveu-se, essencialmente, a dois factores:

        >Falta de condições de trabalho, desde a ocupação das infra-estruturas às falhas da logística.

        >A ausência de critérios claros de formação por parte da Direcção, com incompreensíveis e consecutivas barreiras ao trabalho que pretendia desenvolver.

        F. C. - Mostrou-se descontente pela falta de apoio e cumprimento dos acordos por parte da Direcção. A que níveis se manifestou?

        J. L. - Tal como referi na resposta anterior, quando fui contactado para fazer integrar o projecto da formação do SLN, fiquei, desde logo, informado das dificuldades existentes relativamente às actuais infra-estruturas que o clube tinha. Também me foi dito de que estariam previstas alternativas para minimizar o impacto, o que não se veio a verificar.

        Tinha programado 3 treinos por semana e exceptuando o de 2ª-feira em que tinha disponível o relvado, nos outros dois dias estava sempre dependente dos Seniores, para saber se podia ou não treinar. Como só treinava depois deles, fui obrigado a atrasar os treinos das 19h00 para as 19h30 porque não podíamos ocupar o mesmo espaço e à mesma hora; impediram-me de treinar, argumentando que desconcentrávamos o trabalho dos Seniores. Muitas vezes tive de recorrer ao Futvolley, atrás de uma das balizas, à Quinta e Sexta-feira, para evitar o cancelamento do treino e, consequentemente, comunicar aos atletas o sucedido para não os desmotivar.  

        Após estas incidências, o copo transbordou quando o Sr. Presidente do Clube decidiu intrometer-se no meu trabalho. Não me permitiu no último treino semanal, que foi na Quinta-feira a utilização dos meus atletas depois das 20h30m, que foram cedidos aos Seniores que tinham treino de conjunto, e foi por ele considerado prioritário, quando nem sequer tinham competição nesse fim-de-semana. Tornou-se, desta forma, claro para mim que a visão, sempre redutora, da Direcção na aposta na formação era dominante. Continuavam, infelizmente, de olhos vendados para a formação e era, assim, impossível desenvolver um trabalho competente e eficaz como deve ser realizado. Restava-me, com muito custo, pedir a minha demissão.

        F. C. - Acusou os Dirigentes do Clube de terem falta de carácter. A que situações concretas se refere?

        J. L. - Basta reflectir na atitude dos Dirigentes, desde o início da época, em que passaram a mensagem de que iriam apostar, claramente, na formação.

        E o que é foi feito, em termos de treinos, à equipa de Juniores A? Boicotes consecutivos numa tentativa de desmobilização. E o que fizeram até agora? Apostaram, apenas, nos Seniores; para isso basta ver a quantidade de jogadores brasileiros que circulam pelas instalações do Estádio.

Quem tem sido convocado para o banco dos suplentes nestes últimos jogos? São Juniores. Ainda no passado Domingo, no jogo com o Gândara, estiveram no banco dos suplentes 3 atletas, que jogaram no dia anterior durante os 90 minutos. Já nem falo no Didier que não jogou no Sábado para poder jogar no Domingo a titular.

         Um deles é Júnior do 2º ano (fez a 2ª parte toda, depois de 90 minutos no dia anterior), e os outros dois Juniores do 1º ano (jogaram no decorrer da 2ª parte depois de jogarem 90 minutos no dia anterior). E porquê? É fácil perceber, no meu entendimento, de que os miúdos tenham, a curto prazo, de jogar ao Sábado e ao Domingo. Aí, então, seria o descalabro com graves consequências para o seu estado de saúde.

         Para terminar este assunto, colocaria uma questão que me assalta. Segundo as minhas directrizes, inseridas no planeamento inicial da temporada, deveriam ter sido, aquando da inspecção médica, averbados a todos os Juniores de 2ª ano a aptidão para jogarem no escalão imediatamente a seguir, isto é, nos Seniores e só a um Júnior de 1º ano deveria ter sido averbada essa condição, concretamente ao Guarda-Redes Roberto. Será que os restantes atletas de 1º ano estão aptos para representar o clube no escalão Sénior? Se não estiverem, será que a Direcção tem noção dos prejuízos para a colectividade e também para os atletas?

        F. C. - A contestação dos próprios jogadores contra a Direcção do clube, veiculada num site do Clube, corresponde à verdade e tem fundamento?

        J. L. - Começo por mencionar que os Comunicados, e alguns comentários individuais emitidos, são da única e exclusiva responsabilidade dos atletas. Quanto à questão que me foi colocada, eles reflectem exactamente as situações que se passaram.

        Entendo, no entanto, que o último Comunicado possa parecer estranho porque, afinal, vem negar aquilo que foi dito anteriormente e reafirmado em comentários por alguns atletas. Sei que o único objectivo foi o de trazer alguma serenidade ao balneário e passar rapidamente uma esponja no assunto. Isto para mim só confirmou o grande carácter que aquela equipa tem, porque não acredito que tenha sido por pressões da Direcção - e não duvido que as tenha havido - que eles tivessem dado o dito pelo não dito.

         F. C. - Que balanço faz da sua passagem pelo S. L. Nelas e como vê o futuro da colectividade, ao nível dos escalões de formação, tendo em conta o que foi sendo construído nos últimos anos?

        J. L. - Apesar desta curta passagem, penso que foi positiva e estou ciente de que poderia ter sido mais proveitosa se a equipa tivesse sentido apoio da Direcção. Os Juniores A ganharam 3 dos primeiros 5 jogos do campeonato e perderam 2 (Viseu e Benfica em casa e Repesenses fora). Estavam a escassos 5 pontos do 1º lugar e tínhamos de jogar em nossa casa, na 2ª volta, com os crónicos candidatos aos lugares cimeiros, o Académico Viseu, o Repesenses e o Molelos.

        O futuro dos escalões de formação será, infelizmente, o mesmo que o Clube vive no presente. Não há qualquer visão de futuro, nem nos Seniores nem nos escalões de formação. Gosto demais do Clube para não me sentir magoado com o caminho que algumas pessoas lhe estão a dar.

         F. C. - Acha que o clube poderá vir a sair do estado “vegetativo”, como lhe chamou?

        J. L. - Não quero de forma alguma ser negativista, mas assistindo a estes e a outros acontecimentos, não acredito, para grande desgosto meu, em qualquer solução para vencer o estado a que o Sport Lisboa e Nelas chegou.